No artigo anterior expliquei a diferença entre o temor o servil e o temor casto e também esclareci os perigos da alma que se mantém no estado do temor servil, pois bem agora me deterei a falar sobre o temor casto, aquele o qual necessitamos ter para progredir espiritualmente.
Santo Agostinho vai nos dizer o seguinte, referindo-se ao temor servil: “Conserva este temor, para que ele te resguarde, para que te leve ao amor.” Dessa forma ele nos adverte a conservar esse temor, mesmo não sendo o ideal, pois o medo da condenação fortalece o nosso coração a lutar contra o pecado, mesmo ainda o desejando. E assim a nossa alma amedrontada, porém livre da culpa, encontra em Deus um refúgio e na medida que o Amor lhe invade, o temor se exaure, fazendo-lhe assim progredir no Temor de Deus, atingindo o temor casto.
Quanto mais a perfeita Caridade adentra nossa alma, menos temor servil teremos, pois como diz na Santa Escritura “No amor não há temor. Antes, o perfeito amor lança fora o temor, porque o temor envolve castigo, e quem teme não é perfeito no amor.” (1Jo 4, 18). O único temor que permanecerá em nós é o temor casto, pois é a própria Caridade quem o trás.
O temor casto como disse no artigo anterior é o medo de ofender a Deus, o de perder a santidade. Quem atinge esse estado não teme o inferno, nem a própria morte, mas teme desagradar a Nosso Senhor Jesus Cristo.
Santo Agostinho nos trás um bom exemplo de temor casto. “O varão justo deleita-se coma virtude em si mesma: ainda que escutasse Deus que lhe dissesse: “Eu te vejo quando pecas: não te condenarei, mas me causa desgosto”, ele, o justo, não desejando desagradar aos olhos de um pai, não as vistas de um juiz que incute pavor, teme, não o ser condenado, mas ofender a alegria do pai, desagradar aos olhos do amante.”
Ao ver esse exemplo, nota-se que o temor casto resume-se a amar a Deus verdadeiramente; não deseja o amante magoar aquele a quem ama; o simples pensamento de ferir o Amado lhe causa pavor; é preferível morrer do que desagradar a Deus. São pensamentos que circulam na consciência de quem teme castamente e que vive para agradar a Deus.
Termino esse artigo com mais uma frase de Santo Agostinho, “Não quero evitar o mal somente porque me mandarias para o inferno com o diabo: mas quero evitá-lo, para que não te afastes de mim.”